terça-feira, 16 de outubro de 2012

Criança Também Sofre

Há vezes em que sinto raiva quando ouço alguém falando sobre a ''inocência'' da infância, como eu mesma tantas vezes fiz. Não apenas sobre a tal inocência, mas sobre a ''despreocupação'', a ''tranquilidade''...parece que a gente fica criando uma lembrança utópica da infância, sabe-se lá por quê. Deve ser para preencher o espaço da memória, já que não elaborávamos tão bem as experiências como o fazemos depois de crescer.

Quando sinto raiva, geralmente é porque a pessoa com quem estou conversando fala de alguma criança como se ela não sentisse e pensasse. Minha família, apesar de amorosa, é craque nisso. Tenho uma prima adolescente que está acostumada desde sempre a ter suas experiências desmerecidas pelos parentes. Quando termina um namoro, encaram como palhaçada. Se briga com uma amiga, deveria arrumar mais o que fazer em vez de ficar chorando. Ao se preocupar com o sofrimento de outra amiga, mal ouvem o que conta. O mundo dela se resume a escola e amigos. Quando ela tem um problema em ambas as dimensões, o todo de sua vida fica abalado. Não é para chorar? Não é para sofrer? É claro que ela exagera, e muito. Eu exagerei, minha tia exagerou, todos exageramos na infância, na adolescência e sempre. O que me incomoda é ser tão pouca a abertura para o sofrimento dela. A menina ainda nem tem 18 anos, então não acho que seja demais esperar que tenham um pouco de compreensão com suas experiências. Ela está testando o mundo, descobrindo como nele agir de acordo com o que acontece na escola, no prédio, enfim, nas esferas sociais que habita. Quero que a ouçam e que a acolham, não que a deixem sem o auxílio de pessoas mais experientes que possam ajudá-la a significar melhor o que experiencia na adolescência, que está sendo tão complicada para ela.

De perfeita não tenho nada. Muitas vezes, por vezes até demais, me diverti com os enormes dramas por ela criados (logo a drama queen, hein?). Em minha defesa, digo que ao menos estou sempre repensando minhas atitudes e crenças. E tento dar todo o suporte possível quando estou com ela. Minha prima precisa tanto de carinho e orientação que me comove. É uma menina boa e meio perdida nas ideias, apesar de não tão perdida quanto este texto.

Para fingir alguma ligação com o início: ouçam as crianças, acolham suas emoções e experiências, não achem que suas vidas são um belo e calmo mar de despreocupações. Há muito mais causas de sofrimento no mundo do que o mercado de trabalho e problemas de adultos.

Então, eu corro demais.

As últimas semanas foram difíceis. Tensões online, crises de ansiedade, abandono do Facebook, provas, início do trabalho em cima da ansiedade social na terapia. Me pergunto como é que a gente consegue se deixar levar por esse ritmo louco, ou pior, construir uma vida ditada por ele. Quando foi que minha vida deixou se ser minha, quando foi que perdi o controle? E por mais quantas vezes vou fazer esses questionamentos, encontrar um ritmo saudável e voltar a fazer tudo igual?

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Só falta uma coisinha

Dia lindo de evento científico no centro da cidade. Eu, feliz como há tempos não estava. Orgulhosa de mim, da minha equipe e da minha supervisora 1 (tenho duas), que é fantástica.

Só fica faltando uma coisa: a formação sócio-política (essa expressão existe?). Ainda me parece fraquinha, rasinha, a gente não sabe falar muito bem dessas coisas. A gente fala dos tiros que mataram o filho da mulher e de como isso a fez desenvolver o trauma, mas fala pouco desse meio social que faz morrer o jovem negro e pobre. Como a nossa terapia é recente e já tem muita coisa boa, fico só de olho para ver como incluir essa parte do conhecimento que nem eu tenho ainda. Mas ficarei de olho e vou me (in) formando.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

The Officeando

Minha universidade está em greve
(tinha um episódio The Office no meio do caminho)

Minhas supervisoras estão passando muito trabalho
(no meio do caminho, tinha um episódio The Office)

Há matéria atrasada de Psicopatologia
(tinha um episódio The Office no meio do caminho)

Também há os capítulos do livro que comprei
(no meio do caminho, tinha um episódio The Office)

Tenho que terminar de fazer uma legenda
(tinha um episódio The Office no meio do caminho)

Há as metas de terapia para serem cumpridas.
(no meio do caminho, tinha um episódio The Office)

Nada disso rima,
Nada faz sentido,
Nem precisa ter ritmo.
Porque enquanto perco tempo aqui...
Há mais que um episódio de The Office,
Há uma temporada inteira de The Office no meio do caminho!

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Carolzita no fabuloso mundo do papel contact

Ontem chegou pelo correio um livro que queria já há uns dois anos. Abri o pacote e ele estava lindo, cheiroso, novo em folha. Só que a capa é mole e fiquei preocupada: como conservá-lo? Tive medo de que acontecesse o mesmo com uns livros da Penguin que venho comprando. São mais baratos, mas a capa é tão frágil que é isto o que acontece:


Isto me incomoda muito, e olha que sou das pessoas menos preocupadas com livros "bonitos". Se alguém devolve um livro meu com uma orelha ou outra , alguns amassadinhos e desculpas, nem esquento a cabeça. Digo isso porque já vi gente chorando quando viu que seus livros estavam com amassados (esta é a palavra?) mínimos, estando o conteúdo das páginas em perfeito estado. Minha questão é que os livros durem o máximo possível, e capas caindo não fazem parte deste cenário. 

Querendo proteger meu novo filho livro, lembrei que a bibliotecária da minha escola sempre encapava os livros da biblioteca com um plástico transparente, que uma amiga me disse se chamar papel contact. A bibliotecária sempre encapava de um modo que fazia o livro ficar com uma ponta dura que invariavelmente me arranhava, mas funcionava. O livro durava. Então, fui na lojinha ali de baixo e comprei muuuito papel contact para encapar o livro novo e todos os outros que precisassem de proteção.

Acho que nunca comentei aqui sobre o quanto sou horrível com trabalhos manuais. Toda a matéria-prima do mundo agradece aos céus por eu não tentar fazer artesanato, mas o papel contact não teve tanta sorte e cismei que queria encapar o livro sozinha. Minha mãe quis que eu deixasse a função com a minha avó - que é ótima nessas coisas -, mas um senso de independência que não me vem para trabalhos domésticos tomou conta do meu ser. Eu ia encapar aquilo e ia arrasar!

Claro que olhei para o papel contact e não tive ideia do que fazer. Minha mãe também não sabe fazer isso e tive que pedir ajuda ao amigo de todos, sempre presente: Youtube. Encontrei este vídeo de uma mulher maravilhosa, generosa e salvadora de dinheiro investido em papel contact. Sofri bastante com a parte de cortar o papel sem encostar no plástico, e a dificuldade foi aumentada por ter feito o trabalho na bandeja do teclado, em vez de na mesa da sala. Ainda assim, consegui! É claro que não ficou perfeito e lisinho, mas eu só queria meu livro protegido mesmo.


Na foto seguinte não dá para ver quase diferença nenhuma e não coloquei o livro na mesma posição porque a foto de antes foi tirada ontem, quando eu não tinha pensado em escrever sobre este assunto tão importante.


A moral do dia é: não há papel contact que derrube a força de vontade.


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Hora de me pensar

Escrevo diários desde 2006. Antes escrevia quase diariamente, agora é lucro se apareço uma vez por mês. Porém, há uma atividade iniciada com meus diários que nunca abandono: minha auto-reflexão de fim de ano. Ela não precisa ser necessariamente no diário, já até fiz algumas aqui ou apenas fiquei deitada pensando. Reflito sobre tudo o que fiz e aconteceu comigo, se estou satisfeita, o que poderia melhorar, etc. Ao fim do ano passado, que foi dificílimo, estava feliz comigo mesma e tinha muitos  planos para 2012. Já 2012 está tão diferente que o processo de me pensar já começou agora, no meio do ano.  

Não quero e nem vou citar nomes e fatos, apenas resumir o que vem ocorrendo: as pessoas estão se decepcionando comigo. Já sentiram raiva de mim na escola, mas não foi nada intenso. Já me acharam várias coisas. Mas decepção é uma coisa rara. Na verdade, tem muita coisa que ainda não experimentei dos outros em relação a mim por ter vivido uma infância e também uma adolescência focadas demais na minha vida adulta. Sendo assim, tive contato com poucas pessoas. Não consigo lembrar de um momento anterior em que havia tanta gente decepcionada comigo. E olha, está sendo difícil de lidar. São decepções por motivos diferentes e venho analisando tudo minuciosamente. Errei feio em uma delas, mas ao mesmo tempo senti um fundo de incompreensão do outro lado que não parece que vai sumir tão cedo. Na outra situação, a inflexibilidade da outra parte é tão assustadora (infinitamente mais que na primeira) e há uma interpretação tão torta das coisas que nem sei se um dia poderá ser resolvida. Na duas, concluí que há partes em que tenho razão e outras em que não. Só que não sei o que fazer a partir disto. É uma sensação assustadora. Quebrei a confiança total das pessoas, ou foram só expectativas pontuais com relação a mim? Já que não são amigos próximos e não dá para abordar o assunto, o que é que eu faço? Como ajo com essas pessoas a partir daqui? Tudo vai mudar? Virei outra pessoa aos olhos delas?

No meio deste processo de conhecer a decepção do outro, acabei descobrindo um novo nível de sensibilidade em mim. Não conseguia dormir direito, pensando e repensando sobre tudo isso por horas a fio, até pegar no sono. Chorei onde pude e onde ninguém pudesse ver, tentando me esvaziar desse peso todo. Gastei todo o meu tempo de terapia tentando me deixar convencer pela minha psicóloga de que meus pensamentos estavam distorcidos. Deixei de estudar coisas que amava e que não amava por não conseguir focar minha atenção nos textos por cinco minutos que fossem. Escrevi, escrevi, escrevi. Nas notas do celular, no registro de pensamentos, no diário, em inboxes do Facebook, aqui. Pensei bem mais do que escrevi. E não me abandonaram totalmente aqueles malditos pensamentos de que eu era horrível, de que não merecia a confiança das pessoas, de que não merecia nem que alguém gostasse de mim, de que as pessoas estavam me mostrando o que eu não sabia - que não apenas estou, mas sou toda errada -, de que eu deveria apenas ficar quieta no meu quarto.

As piores coisas de tudo isto são saber que isto é ó um drama desta minha cabecinha repleta de pensamentos disfuncionais e que as pessoas não devem passar nem um terço do tempo que gastei sem dormir por isso pelo menos pensando sobre o ocorrido. Isto tudo foi uma pedrinha em seus caminhos e uma montanha no cotidiano da recém-coroada Miss Sensibilidade 2012. Pela primeira vez em muito tempo, eu queria voltar no tempo e fazer diferente, pelo menos em uma das situações (sei que não mudaria nada na outra). Não que isto fosse mudar os problemas mais profundos que ela trouxe à tona, mas pelo menos eu poderia acordar sem pensar nessa bobagem toda e já me sentir triste desde o primeiro minuto do dia, não? Eu já era evitativa, agora estou começando com essa mania de fuga.

Apesar de ainda não estar lá muito bem, estou feliz por estar começando a pelo menos sair daquele estado de não querer levantar, sair, pensar ou comer direito. Vou ter de confessar que fiquei assustada comigo e senti medo por mim. ''Se perdi a vontade de fazer qualquer coisa por algo tão pequeno, como vou ter forças quando acontecerem coisas maiores?''. É, ainda não sei. Conhecer as pessoas de verdade sempre vai me reservar surpresas.

domingo, 8 de abril de 2012

Transtorno do sei lá o que

Ando com medo de escrever sobre qualquer coisa que não seja Bollywood. Qualquer coisa. Como vendo lendo muitas notícias sobre estúpidos grupos de ódio online, qualquer coisa me faz achar que vão ler meu texto e me perseguir. A parada está ficando séria.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O manual da melhor amiga

Tenho consciência de não ter sido a adolescente mais fácil de lidar do mundo. Alguns (certo, muitos) até ririam do fato de eu usar o verbo no passado, mas repito pela trilhonésima vez que há uma diferença monstruosa entre os 15 e os 20 anos. Os teens se foram. Twenty. Vinte. Redondo, duas décadas. Pode ser pouco, mas alguma coisa eu já sei. E porque gosto de ser redundante, uma destas coisas é que não fui uma adolescente fácil.

Desde nova eu queria ser ouvida e compreendida. Hoje percebo a injustiça de exigir compreensão quando nem você mesma sabe do que está falando, mas pedir justiça aos meus idos 15 anos também não tem nada de justo. De todo modo, eu precisava falar, e não era pouca coisa. Era um pouquinho mais sensível, filosófica e chatinha que a maior parte da minha família, que passava por coisas demais para poder gastar tempo com o pensar só pelo pensar. Eu era da primeira geração dos que podiam apenas estudar e ser crianças, então tive o privilégio das reflexões infinitas. Desejava compartilhá-las e até tentava, mas a falta de entendimento por parte da galera de casa me machucava muito. Aí transferi para a do colégio.

Não me lembro de um ano escola, do 1º período até o 3º ano, em que eu não tenha tido uma melhor amiga. Desde a Thaís, menina gordinha que brincava comigo no recreio, passando pela Rayanne, que fazia festas de aniversário para suas bonecas, e chegando à Patrícia, com quem eu discutia Harry Potter. Eu tinha outras amigas, mas a necessidade de classificar uma como "melhor" era forte. A melhor tinha que me ouvir sempre. Aguentar meus julgamentos. Me pedir ajuda quando precisasse e saber que eu também estava ali. Dividir comigo suas confissões de paixões platônicas e tratar as minhas com o maior respeito. E já disse que tinha de me ouvir sempre? Então.

Acontece que eu sempre mudava de melhor amiga, porque qualquer coisinha que eu achasse meio contra a moral desclassificava a criatura para o posto. Um exemplo? Ficar com um garoto idiota. Ou melhor, que eu considerasse idiota. Mais um: ficar andando com uma turminha que eu considerasse sem futuro.Tanta, mas tanta coisa era fator de exclusão (serei justa: também havia alguns de reinclusão) que nem eu sabia quais eram todos. Como em inglês soa menos pior, podem me chamar de a little bitch.

Aí a escola acabou. Não havia mais uma fila de gente querendo ser minha melhor amiga. Entretanto, tinha gente querendo me conhecer e gostar de mim. Devo ter me assustado no início, mas depois veio um sentimento inesperado. Algo como liberdade. Existe desaperto? Invento agora: um desaperto no peito. Eu não precisava mais classificar ninguém num sistema estúpido que se transformava mais que o David Bowie. Podia contar com algumas pessoas mais ou menos, dependendo do momento. Felizmente há aquelas com as quais posso contar em mais momentos do que outras, mas se hoje sentir uma vontade de esfaqueá-la por um motivo qualquer, não é isto que vai me afastar e deixar de classificá-la como alguém importante na minha vida. Não amo ninguém todo dia. Parece que expandiu. Tem lugar para muita gente. Cada uma do seu jeito e sua necessidade, mas todas presentes.

A linda e maravilhosa moral da história é que só hoje percebi ter finalmente parado com aquele movimento louco de busca dos melhores amigos. Não sei nem o que é "melhor", já que estou revendo vários conceitos. Hoje posso pelo menos dizer que aquela coisa de ter que ser menininha-virgem-boazinha já não faz parte da lista, um grande avanço. Acho que já conheci muita gente incrível fora dessas características. E para todas aquelas que sofreram nas mãos da super julgadora little bitch, só posso pedir desculpas, apesar de não me sentir muito no direito de falar por ela. Mas, perdão, de todo jeito. Vocês foram grandes, incríveis e fabulosas melhores amigas.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Primeiras reflexões sobre saúde mental

Hoje cedo fui ao ambulatório para acompanhar as consultas dos pacientes com os psiquiatras. Acompanhei apenas uma paciente, que teve uma consulta bem longa e a experiência me fez pensar bastante sobre o conceito de saúde mental e o modo como as pessoas o encaram. Foram pensamentos simples, mas a gente tem que começar de algum lugar.

Vejam só, não sei falar bem destas coisas como tão competentemente o fazem alguns dos meus colegas de faculdade. Não sei dados, teóricos mais influentes, nada. Só o que percebo e sinto. E no momento, o que vejo está totalmente enviesado pela minha vivência enquanto estudante de Psicologia. No curso aprendemos a prestar uma atenção maior ao sofrimento humano e suas consequências. Estou começando a trabalhar num grupo que estuda o TEPT (Transtorno do Estresse Pós-Traumático), um transtorno de ansiedade que, resumidamente, teria três características principais: hiperestimulação autonômica, evitação e as famosas revivescências. Para dar um exemplo, imaginem que fulano A e fulano B foram assaltados. Assalto é algo que mexe com qualquer um, costuma deixar as pessoas mais prevenidas. Imaginem que os dois passaram por isto e ficaram abalados, mas o B teve uma reação diferente. Não consegue, de modo algum, passar pelo lugar do assalto e chegar perto de pessoas que se assemelhem ao assaltante. Está mais irritável, hipervigilante, se sobressaltando por qualquer coisa. Agora, o sintoma que considero mais instigante: o B fica revivendo o assalto como se estivesse ocorrendo. Não é simplesmente pensar quando se quiser. B está no meio da rua e sei lá, a buzina de um carro parecida com a que estava tocando na hora do assalto ativa toda uma rede que o coloca naquela situação outra vez.* A vida dele fica totalmente afetada por isto, não conseguindo mais desempenhar as atividades de antes. Pergunto: como vocês acham que uma pessoa desta consegue cozinhar, trabalhar, sair de casa? 

Muitas vezes não consegue, ou o faz com muito esforço. Mas não dá para ser como antes, tenho a impressão de que sua vida fica como que paralisada naquele acontecimento. Aí que entra todo o problema social. A doença mental não é vista seriamente. Sabem o famoso "ah, frescura!"? É bem por aí. O que mais ouço são as estagiárias relatando sobre como tiram sarro dos pacientes e diminuem sua condição. Este mundo é todo voltado para o visual, os cegos que o digam. E se você não pode estender seu braço para mostrar uma ferida ou apresentar o resultado de uma ressonância que seja, é como se o seu estado não fosse validado. Mesmo com a dor, o desespero e o sentimento de incapacidade. Se a coisa já é ruim no senso comum, tentem visualizar como é quando um profissional da saúde demonstra os mesmos preconceitos. Ouvi algumas histórias sobre como médicos do INSS não estendem as licenças dos nossos pacientes porque, bem, eles não tem nada. Se aquelas pessoas tremendo da cabeça aos pés e tendo lembranças intrusivas a todo momento não tem nada, sinto medo do que seria ter alguma coisa. A história se repete: são liberados para voltar ao trabalho e não aguentam um mês que seja, ou aguentam com muita coragem. Admiro muito os pacientes por isto. É demais para um ser humano.

Um dos comentários que mais me incomoda quando alguém diz que está passando por uma situação assim é "Ah, não fica pensando nisso!". A evitação que citei no exemplo é comportamental, mas os pacientes também evitam pensamentos. Segundo as pesquisas, quanto mais tenta-se suprimir os pensamentos, com mais força eles ficam. Ou seja, além de o sujeito aconselhar a pessoa a fazer algo que ela não consegue como se fosse a coisa mais simples do mundo, a estratégia ainda piora o estado dela. E muitas vezes nem é por maldade, mas desinformação proporcionada por um meio social que pouco se importa com a promoção de saúde mental.

Só que agora que tenho informação, não posso mais ficar com ela só para mim. Querendo ou não, vejo como meu dever ético compartilhar estas informações que considero tão importantes com o máximo de pessoas que puder. Se quem estiver lendo este texto acreditar em algo do que expliquei, mesmo que tenha sido de modo tão simplório, peço para que preste mais atenção ao seu semelhante e não diminua qualquer transtorno mental que ele tenha (acredite você ou não em transtornos mentais). Falei mais do TEPT porque é aquilo com que estou tendo maior contato agora, mas isto se estende até aquele "maluquinho" com quem as crianças  ficam implicando na rua de casa. Ter respeito já ajuda.

*Se algum psicólogo ou psiquiatra um dia ler isto e algo estiver errado, perdoem a pobre mocinha confusa do 7º período.

domingo, 1 de janeiro de 2012

1/1/12

Passei uma virada de ano estranha. Pela primeira vez, minha família respeitou meus desejos e pude cumprir meus planos: ver uma comédia romântica, jogar The Sims 2, dormir. A estranheza está em realmente ter feito tudo o que queria e pela primeira vez sentir que essa coisa de novo ano não é tão incrível assim. Ou melhor, o novo ano é incrível, mas a noite, a contagem, a espera...nada disso me pareceu tão emocionante. Era só barulho.

O filme, uma droga. Sintonia de Amor, 1993. Pensei que não pudesse errar com Tom Hanks e Meg Ryan, mas o novo ano já chegou me ensinando que nem isso é certo (alguma coisa é?). Não conseguia dormir e ao invés de me forçar a fazê-lo, como todos os dias, me mandei enrolar até não aguentar mais e ter como única saída um desmaio monumental na cama. Nesta envelheci no TS2, bati papo em inglês (e notei que sou uma droga nisto), baixei um programa doido, dancei Beatles às 6 da manhã (Don't Ever Change!), contei pra mim em segredo o meu maior desejo para 2012, recebi um tweet da minha entrevistadora indiana favorita. Aí veio o sono.

Mais tarde, o mesmo de sempre: dor no corpo inteiro. Fiquei irritada com a constância da situação e decidi me utilizar da única arma que tinha: relaxamento muscular progressivo. Toda torta, insegura, sabendo que a respiração diafragmática não era daquele jeito, aí...meldels, está funcionando! Dei até uns pulinhos depois. É engraçado a primeira descoberta do ano ser algo que eu já sabia. Vou passar a prestar mais atenção nos conhecimentos que já tenho, talvez as soluções para vários problemas recentes estejam lá.

Sem filmes desde que troquei de HD, ia ver alguma coisa indiana para tirar o desânimo com cinema trazido pelo filme do Tom Hanks. Só que fiquei olhando...parecia que Meia-Noite em Paris estava me chamando. Nem sei por que baixei esse filme, mas finalmente ele estava me interessando. Arrisquei. Minha mãe chegou aos 17 minutos e viu comigo. Muito, muito amor. Amei a história, o roteiro, ri demais do Adrien Brody dizendo "Eu vejo um rinoceronte". Falo mais dele num daqueles posts sobre filmes e reflexões, gostei muito do último.

Aí mandei altas mensagens cheias de amor no Facebook, mas não vou contar muito sobre isto. Tenho vergonha de publicar nos murais das pessoas, então vou lá nas mensagens e escrevo um monte. É tão bom compartilhar coisas boas, gente.

E é isto. Sem moral da história, sem feliz para sempre. Na verdade, até que tem um final feliz: finalmente estou gostando/amando Woody Allen, meu corpo está o mais relaxado possível e estou pronta para voltar ao estágio. Já estou no clima de 2012.