Faz alguns anos que tenho problemas com procrastinação, como praticamente todos que conheço hoje em dia. Na época da escola não era algo tão problemático por não trazer grandes prejuízos, mas durante a faculdade foi quando a coisa degringolou e o fato de procrastinar se tornou a minha principal fonte de autojulgamento e culpa. Houve muitas matérias que não estudei durante um semestre inteiro e vistas apenas na véspera das provas, trabalhados adiados e lágrimas derramadas. O complicado de ter sido uma aluna de alto funcionamento na escola era que ninguém levava muito a sério o nível de sofrimento que procrastinar me trazia na faculdade. Hoje entendo bem o que acontecia: minha escola era pública e o ensino não era tão puxado, então estudar de última hora dava conta daquelas condições e resultava em boas notas. Já a faculdade era federal, com uma carga de estudos absurda, conteúdo muito complexo já no primeiro semestre e também havia a pressão de estar cercada por colegas muito melhor preparados que eu, com um capital cultural enorme. É claro que as estratégias de antes não funcionavam mais, mas para quem estava de fora parecia que pouca coisa havia mudado.
No sétimo período de faculdade eu já não aguentava mais e busquei terapia, que me ajudou bastante com estratégias de manejo da ansiedade, divisão de tarefas, controle do tempo, entre outras coisas. É claro que o comportamento voltou muitas vezes e foi frustrante, mas só ultimamente aprendi uma nova lição que tem feito a diferença: quando você aprende estratégias para reduzir a procrastinação, a ideia é que os momentos de vida em que você se engaja no comportamento sejam reduzidos, mas não necessariamente excluídos. Ter essa noção faz toda a diferença porque hoje quando estou procrastinando - como neste exato momento -, sei que está tudo bem e que posso voltar aos trilhos. Também me tirou o desespero em que fico quando não estou procrastinando e fico com medo de "perder a onda" e voltar a fazer, como se tivesse que agarrar com todas as forças aquela chance de fazer direito. Já entendi que as coisas que fazemos, pensamos e sentimos são como ondas. Elas vêm e vão, e o mar que é a vida muda muito, mas sempre está ali. Hoje posso não procrastinar, amanhã voltar e ter mil oportunidades de recomeçar. Uma outra lição que aprendi foi evitar ao máximo ficar buscando apps, sites e vídeos sobre o assunto, pois isso certamente virará outra forma de procrastinar. Recentemente busquei e li alguns estudos científicos sobre o assunto e a área é surpreendentemente mal estudada em termos de tratamento; de uma forma geral apenas as causas foram bem estudadas e têm bem menos a ver com ansiedade e perfeccionismo do que pensamos. Ou seja, a chance de ficar pulando de um método que funcionou para um sujeito específico para o outro sem aquilo dar certo para você porque ainda não é algo bem fundamentado é gigante. Nessas horas agradeço meu espírito cientificista por me ajudar a economizar tempo, tudo o que uma procrastinadora precisa.
E mesmo com toda essa melhora ainda é difícil evitar a carga de autojulgamento quando a coisa aperta. A sensação de sufocamento, aperto no peito, pensamentos correndo e martelando pela mente, olhar para o relógio e ver cada segundo como um inimigo que se aproxima do seu campo de batalha...acho que nunca vou me acostumar com nada disso, apesar de não me afogar mais. E lá vou eu para mais um recomeço.
E mesmo com toda essa melhora ainda é difícil evitar a carga de autojulgamento quando a coisa aperta. A sensação de sufocamento, aperto no peito, pensamentos correndo e martelando pela mente, olhar para o relógio e ver cada segundo como um inimigo que se aproxima do seu campo de batalha...acho que nunca vou me acostumar com nada disso, apesar de não me afogar mais. E lá vou eu para mais um recomeço.