No último fim de semana rolou o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), provinha esperta que está equivalendo ao vestibular. Durante meu primeiro ano de faculdade eu até sabia as datas dessas provas (mentira, levei um susto quando chegou a UERJ), mas este ano fiquei surpresa com o quanto eu não sabia de nada, não queria saber e só me divertia com quem sabia. Dada a minha história de vida, isto é até uma boa coisa.
Fui muito resistente à mudança de vida que a faculdade me trouxe. Comparando com pessoas que passaram junto comigo, até que pouca coisa mudou — o Gabriel e a Fernanda do 2º semestre tiveram que mudar de estado para estudar na UFRJ. Eu só tive que sair sozinha de Niterói pela primeira vez na vida e posteriormente me mudar para o Rio, mas isto é muita coisa. Até o meu 3º ano ainda achava uma grande aventura ir "sozinha" (sempre era com uma amiga) até Niterói, que é ao lado de São Gonçalo. Não andava sozinha, não fazia amigos fora do meu círculo feliz de seis amigas e imaginava o Rio como uma selva. Imaginem minha cara quando minha mãe , que havia prometido pegar o ônibus comigo no meu primeiro dia de aula , falou para eu ir sozinha, pois estava com muito sono?
Uma das coisas que mais me amedrontava era ter que recomeçar o processo de fazer amigos, coisa para a qual sou muito chatinha. Demoro a dar abertura para as pessoas, fico quietinha e só sorrio de verdade quando tenho algum nível de confiança no outro, o que costuma demorar quase dois anos. Eu estava muito assustada no primeiro ano e só sabia falar do quanto sentia saudades da escola. Vivia comparando a sensação de segurança dos meus tempos de escola com o constante estar perdida da faculdade. Era por isto que me apegava muito ao vestibular e suas vítimas. Apesar de já estar na universidade, eu ainda compartilhava do medo que os vestibulandos tinham em relação ao futuro. Mais do que isto: eu ainda me colocava no grupo deles, as pessoas que ainda viam a universidade de fora com um misto de medo e animação. Seu corpo pode estar na situação e você respondendo aos estímulos, mas você não necessariamente se sente parte do ambiente. Falando com vestibulandos, vendo datas de provas e tentando me inteirar do que acontecia, eu só atrasava meu processo de transição de um grupo para o outro. É engraçado como a gente sabota a si próprio.
Quando meus amigos adolescentes começaram a me falar do Enem e percebi que não tinha a menor ideia do que estava acontecendo, percebi que eu finalmente tinha passado de um lado para o outro. Notei que não sei nem como é o vestibular da UFRJ e fiquei espantada com a recém-adquirida importância do Enem, que na minha época só servia para alguma coisa se você quisesse bolsa em particular ou Unirio. Não me inscrevi para a PUC e não consegui passar para a Unirio pelo Enem, mas passei pelo vestibular. A prova que fiz há três anos só para gastar inutilmente umas cinco horas da minha vida é hoje o centro do universo de todos os pré-vestibulares do país. Ontem uma menina publicou no Facebook que havia feito 122 acertos no Enem e pensei "Credo, eu era muito ruim! Só fiz 44 no meu". Esqueci que na minha época eram 63 questões, hoje já são 180. A super velocidade com que as coisas podem mudar me deixa zonza.
Pedro, rural juror mais chaudhvin ka chand de Minas: você só fez o Enem para treinar, mas que tenha sido uma boa experiência e você possa arrasar com esta prova no ano que vem. Isa Isoleta, sei que você é muito ansiosa, mas que tenha destruído tanto a banca que eles liguem para a UFRJ exigindo sua presença na próxima turma de Letras Português-Inglês. Discutam questões com os amigos, comparem seus resultados com os de outros concorrentes e entrem em desespero, passem horas nos sites das universidades vendo notas de corte, esperem pela próxima vez se forem mal ou achem que só vão passar na reclassificação e deparem-se com aprovação para o primeiro semestre...apropriem-se deste momento que pode ser doloroso e até injusto, mas é de vocês. Vivam tudo intensamente. Já estive no seu lugar e a vivência faz parte de quem sou hoje, mas já consegui dar adeus a tudo aquilo. Agora fico aqui esperando para recepcioná-los do outro lado. Sucesso!