quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Enem


No último fim de semana rolou o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), provinha esperta que está equivalendo ao vestibular. Durante meu primeiro ano de faculdade eu até sabia as datas dessas provas (mentira, levei um susto quando chegou a UERJ), mas este ano fiquei surpresa com o quanto eu não sabia de nada, não queria saber e só me divertia com quem sabia. Dada a minha história de vida, isto é até uma boa coisa.

Fui muito resistente à mudança de vida que a faculdade me trouxe. Comparando com pessoas que passaram junto comigo, até que pouca coisa mudou — o Gabriel e a Fernanda do 2º semestre tiveram que mudar de estado para estudar na UFRJ. Eu só tive que sair sozinha de Niterói pela primeira vez na vida e posteriormente me mudar para o Rio, mas isto é muita coisa. Até o meu 3º ano ainda achava uma grande aventura ir "sozinha" (sempre era com uma amiga) até Niterói, que é ao lado de São Gonçalo. Não andava sozinha, não fazia amigos fora do meu círculo feliz de seis amigas e imaginava o Rio como uma selva. Imaginem minha cara quando minha mãe , que havia prometido pegar o ônibus comigo no meu primeiro dia de aula , falou para eu ir sozinha, pois estava com muito sono?

Uma das coisas que mais me amedrontava era ter que recomeçar o processo de fazer amigos, coisa para a qual sou muito chatinha. Demoro a dar abertura para as pessoas, fico quietinha e só sorrio de verdade quando tenho algum nível de confiança no outro, o que costuma demorar quase dois anos. Eu estava muito assustada no primeiro ano e só sabia falar do quanto sentia saudades da escola. Vivia comparando a sensação de segurança dos meus tempos de escola com o constante estar perdida da faculdade. Era por isto que me apegava muito ao vestibular e suas vítimas. Apesar de já estar na universidade, eu ainda compartilhava do medo que os vestibulandos tinham em relação ao futuro. Mais do que isto: eu ainda me colocava no grupo deles, as pessoas que ainda viam a universidade de fora com um misto de medo e animação. Seu corpo pode estar na situação e você respondendo aos estímulos, mas você não necessariamente se sente parte do ambiente. Falando com vestibulandos, vendo datas de provas e tentando me inteirar do que acontecia, eu só atrasava meu processo de transição de um grupo para o outro. É engraçado como a gente sabota a si próprio.

Quando meus amigos adolescentes começaram a me falar do Enem e percebi que não tinha a menor ideia do que estava acontecendo, percebi que eu finalmente tinha passado de um lado para o outro. Notei que não sei nem como é o vestibular da UFRJ e fiquei espantada com a recém-adquirida importância do Enem, que na minha época só servia para alguma coisa se você quisesse bolsa em particular ou Unirio. Não me inscrevi para a PUC e não consegui passar para a Unirio pelo Enem, mas passei pelo vestibular. A prova que fiz há três anos só para gastar inutilmente umas cinco horas da minha vida é hoje o centro do universo de todos os pré-vestibulares do país. Ontem uma menina publicou no Facebook que havia feito 122 acertos no Enem e pensei "Credo, eu era muito ruim! Só fiz 44 no meu". Esqueci que na minha época eram 63 questões, hoje já são 180. A super velocidade com que as coisas podem mudar me deixa zonza.

Pedro, rural juror mais chaudhvin ka chand de Minas: você só fez o Enem para treinar, mas que tenha sido uma boa experiência e você possa arrasar com esta prova no ano que vem. Isa Isoleta, sei que você é muito ansiosa, mas que tenha destruído tanto a banca que eles liguem para a UFRJ exigindo sua presença na próxima turma de Letras Português-Inglês. Discutam questões com os amigos, comparem seus resultados com os de outros concorrentes e entrem em desespero, passem horas nos sites das universidades vendo notas de corte, esperem pela próxima vez se forem mal ou achem que só vão passar na reclassificação e deparem-se com aprovação para o primeiro semestre...apropriem-se deste momento que pode ser doloroso e até injusto, mas é de vocês. Vivam tudo intensamente. Já estive no seu lugar e a vivência faz parte de quem sou hoje, mas já consegui dar adeus a tudo aquilo. Agora fico aqui esperando para recepcioná-los do outro lado. Sucesso!

domingo, 16 de outubro de 2011

Amigos Paginados

Estou lendo dois livros. Um se chama O Amor, escrito por Dominique Fernandez, e o outro é Terapia Cognitiva - Teoria e Prática, escrito pela Judith Beck. Leio o primeiro para não me desacostumar com literatura e o segundo é para o estágio e minha carreira. Apesar de andar faltando tempo para isto no meio de tanta coisa para fazer e tanto trânsito para encarar, amo ler. Tenho uma relação pouco saudável com os livros na qual considero-os meus melhores amigos. É mais fácil eu lembrar dos sonhos de uma personagem de algum livro da Danielle Steel do que da frase que a minha melhor amiga acabou de dizer. Os livros são lidos no meu tempo, nos lugares que quero, nos momentos em que sinto vontade e posso largá-los se estiverem chatos sem medo de ferir seus sentimentos. Ou seja, paraíso do meu egoísmo.

  
Eu estava lendo a biografis dos meninos
e Os Três Mosqueteiros na mesma época.
No fim de 2009 ganhei a biografia dos Beatles (a do Bob Spitz) como presente de Natal. Ela tem quase ou mais de mil páginas e eu certamente demoraria um longo tempo para lê-la, mas passei quase todo o janeiro de 2010 sem internet, então consegui terminá-la em um mês. Lia-a até de madrugada, e foi numa dessas que notei pela primeira vez o quão estranha minha relação com os livros eram: abracei a minha Bíblia beatlemaníaca para dormir. Mais estranho ainda foi não ter sido a primeira vez que fazia aquilo, mas sim a primeira vez que notei esta mania. Quando abraço meus livros, parece que estou mais perto de todo o mundo que está lá dentro. E é por isto mesmo que só abraço os que gosto, ou seja: nada de envolver O Grande Gatsby nos meus braços. Estava cursando Fisiologia I na época em que lia This Life, a autobiografia do Sidney Poitier. Terminei de lê-la pouco antes do início de uma aula e céus, eu deveria ter esperado acabar a aula para fazer isto! Lá estava eu, tentando abraçar o livro discretamente e me despedir do meu amiguinho enquanto o professor falava da permeabilidade seletiva da membrana plasmática.

Já disse que agir assim não é saudável, tenho consciência disto. Antes eu pensava que fosse relacionado ao fato de eu ter poucos amigos ou ser pouco aberta a eles, mas agora estou muito bem de amigos e continuo nesse carinho todo com meus livros. É apego mesmo. Consigo imergir em um livro muito facilmente, diria até que o livro consegue imergir em mim. E não é uma ligação material, já que apesar de dizer o contrário, empresto meus livros a quem quiser e nem reclamo quando os devolvem em estado de semidestruição. É só o meu conceito de amizade que é um pouco diferente dos de outras pessoas, com amigos paginados sendo possíveis.

sábado, 1 de outubro de 2011

Alguns filmes e reflexões

É de conhecimento geral que passo quase todo o meu tempo livre vendo filmes indianos, mas ando checando alguns filmes ocidentais (muitas comédias românticas) e tirando algumas impressões. Mega resumidamente, o que acho dos últimos vistos:

- Esposa de Mentirinha (2011)
O Adam Sandler estava com cara de quem estava ali para curtir o Havaí ao invés de fazer um filme, todo relaxadão. A Jennifer Aniston estava com aquela expressão séria de sempre (acho que ela tem cara de triste), mas gosto muito dela. A personagem dela finge ser ex-esposa do personagem dele, não queiram saber o porquê. O que tivemos foi um desfile patético de clichês como "a amiga que o cara não notava que era  gata", "o herói encantando a mulher divorciada ao demonstrar carinho pelos filhos dela", as cenas de crianças precoces que discutem como adultos e o discurso de amor básico. Não tenho nada contra clichês, mas...saibam usá-los. O pior do filme foi o primo do Adam Sandler, que ficava gritando e caindo...acho que era para me fazer rir.


-Eva Perón: A Verdadeira História (1996)
Não entendo nada do peronismo e por causa dos comerciais de Evita, sempre quis saber mais sobre a Eva Perón. Pensei que um filme do país de origem da personagem fosse melhor para começar do que um musical da Madonna e acho que fiz o certo. O filme não conta a história da Eva linearmente - começa mostrando seu último ano de vida e ocasionalmente mostram-se alguns flashbacks que explicam mais ou menos como uma filha bastarda/atriz acabou se tornando a primeira-dama mais memóravel da Argentina. Gostei muito da atuação da Esther Goris, porém saí com a impressão de que o filme foi feito mais para intensificar o mito da grande Evita do que para explicar Eva, a mulher. A impressão ficou mais forte na cena final, em que ela dramaticamente morre implorando ao marido que se úna aos pobres, pois somente estes não o abandonarão. Queria saber se a energia passada pela Esther foi fiel à da Eva. A imagem de mulher com muita garra e fibra foi reforçada em cada cena.

Obs: estou vendo umas fotos da Eva e ela era tão linda!

-Onde Está A Felicidade? (2011)
MELDELS, sofri demais. Depois de tanto tempo sem ir ao cinema, acabei gastando meu dinheiro com a comédia mais sem-graça que vi em muitos meses (tanto que nem lembro de pior que essa agora). A Bruna Lombardi estava tão ruim que eu não conseguia parar de comentar isto com a minha amiga. Chegava a dar pena vê-la tentando fazer as (péssimas) piadas do roteiro. Por falar no roteiro...eca. Não sei quem teve o brilhante insight de que palavrões são as coisas mais engraçadas ever, mas ele claramente foi aproveitado. As sequências com diálogo nonsense + piada horrível terminada em palavrão para o público rir devem ter sido umas quinhentas.


-Ele Não Está Tão A Fim De Você (2009)
Como minha mãe me convence a procurar essas coisas? Muitos personagens e pouca história para cada um. Meu maior problema com este filme é que a personagem mais irritante do mundo, Gigi, comportava-se como uma louca e era extremamente irritante. Acho que era para ser engraçado, mas...adivinhem! É, não ri de novo. Se apenas ela não ser engraçada fosse o problema...no final a moral da história foi que a maluca estava "certa" porque ao contrário do outro rapaz lá que do nada se apaixonou por ela,  a criatura se arriscava a quebrar a cara no amor. Sério, gente? A menina juntou indícios que eram qualquer coisa menos evidências de que o carinha estava apaixonado por ela, partiu para cima inesperadamente, foi rejeitada porque ele obviamente achava que não tinha dado sinal de amor nenhum e ELA está certa porque pelo menos se arrisca? Não funcionou para mim.

Lado bom: a personagem da Jennifer Connelly deixando de se culpar por ter sido traída pelo marido e percebendo que passar um tempo consigo mesma talvez fosse o que precisava depois de tanto tempo vivendo por outra pessoa. E também foi bonita a lição de flexibilidade do casal Jennifer Aniston-Ben Affleck.Por falar nele, uma vez li uma frase em que ele dizia que sua cabeça parecia com aquelas estátuas de pedra da Ilha de Páscoa e não consegui esquecer. Contei isto à minha mãe logo na primeira cena dele e toda vez que ele aparecia, ríamos e comentávamos que não dava para não pensar nisto.

-Harry e Sally - Feitos Um Para O Outro (1989)
Amei, amei, amei este filme. Posso escrever de novo? Amei, amei, amei! Finalmente entendi o porquê de ser um filme tão aclamado: é simples, com diálogos incríveis e confirmou a certeza que manifestei no último post: adoro a simplicidade do cotidiano, isto é mágico para mim. Uma coisa muito legal é que ao longo do filme são mostrados pequenos depoimentos de casais de velhinhos contando como se apaixonaram, e todas as histórias são de amor à primeira vista, ou seja — opostas à do Harry e da Sally. Eles não se deram bem quando se conheceram, mas não é aquele "ódio cheio de amor" dos filmes mais clichês. É apenas não gostar de alguém, como acontece tantas vezes com todos nós. Depois de vários anos é que conseguem se tornar amigos, quando a maturidade já falava mais alto e os dois finalmente tinham algo em comum (haviam terminado relacionamentos recentemente). Adorei os personagens sem querer ser como nenhum deles e nem viver aquela história, então foi tudo muito convincente. Também pode provocar umas boas discussões sobre nossas visões a respeito de homens e mulheres. Aprendi com este filme como deve ser uma comédia romântica. Assistam!

Obs: a Meg Ryan era tão linda antes das mil coisas que fez no rosto...

-Manhã de Glória (1933)
Estou com dificuldades para me lembrar dele agora, mas recordo de ter achado os olhos da Katharine Hepburn muito expressivos. A história sobre uma atriz que acreditava muito em seu potencial não me cativou muito, mas o rapaz que gostava dela era adorável. Nas cenas iniciais fiquei pensando em quantas pessoas acham que confiança é a única prova necessária de seus talentos. Não, pessoas. Vão estudar e praticar! A cena final me assustou, apesar de este não ser o objetivo dela.

A cena em que ela interpreta Julieta mesmo bêbada em uma festa me deixou muito apreensiva pela personagem, mas adorei o quanto ela arrasou. Os olhos me prendendo novamente...

Como veem, andei apostando muito em comédias românticas e quebrando a cara fortemente com elas. Também vi Tudo Acontece em Elizabethtown e 500 Dias Com Ela, mas já cansei de comentar e ficarão para depois (ou não). A conclusão é que preciso ver melhores filmes com urgência.

Ouvindo: The State I Am In , de Belle & Sebastian.