sábado, 26 de março de 2011

Machismo? Argh!

Quem passeia muito de ônibus acaba sabendo de muitas histórias alheias. Quando há alguém conversando alto com outra pessoa na rua, costumo dizer ''As pessoas adoram compartilhar suas vidas comigo'' para o (a) amigo (a) que estiver andando comigo. Brinco porque realmente acho engraçado o quanto as pessoas acham que seus segredos estão mais protegidos na rua. Até eu caio nessa, às vezes. Uma vez, estava no ônibus conversando com a Gabi sobre um menino da faculdade. Ele havia falado de muitas coisas intensas de sua vida para um monte de gente do curso, e estávamos falando de tudo aquilo, do quanto ele deveria se preservar mais e de tudo por que ele havia passado. Um menino que estava sentado próximo a nós parecia ser um colega da nossa turma, e esta dúvida nos perseguiu por meses. Descobrimos que não era ele algum tempo depois, mas a situação valeu para nos deixar mais alertas. A rua não é uma extensão da nossa conversa secreta de msn!

De todo modo, meus dias não teriam a mesma graça se não fossem por estas lindas pessoas que saem compartilhando suas experiências e pensamentos com os outros. Uma dessas conversas acabou sendo o ponto mais interessante do meu dia de ontem. Cenário: ônibus da linha Castelo-Barra da Tijuca. Horário: quase 19:00. O trânsito da Barra é sempre intenso neste horário, e não foi diferente ontem. Dois garotos conversavam no banco atrás do meu, e eu os estava achando engraçados. Sabem aqueles meninos bobos, que gostam de contar vantagem? Eram bem assim. Um tinha 17 anos, o outro era um pouco mais velho. Estava achando os dois bobos por estarem tentando deixar bem claro que estudavam na PUC, blá blá blá, coisa de menininho deslumbrado. Não dá para culpar um calouro de 17 anos por ser assim, tudo bem. Então, o mais novo ficou zoando um amigo que estudava numa outra faculdade particular de menos prestígio. Ok, entrando no nível ''idiotas''. As pessoas tem uma capacidade sensacional de piorar as coisas. Os dois simpaticões começaram a conversar sobre mulheres. Eu estava sentindo raiva, que quase se transformou em ódio quando ouvi:

- Eu pegava uma menina de 14 anos quando eu tinha 16, mas ela era muito chatinha.
- Por que?
- Ah, não tinha muito o que conversar com ela.
-Cara, pra que conversar? O bom de pegar novinha é que elas são apaixonadinhas,aí você...
- É, uma vez eu peguei uma e fiz um monte de coisa com ela.
- Fez o que?
-Ah, de tudo.

Ouvi de tudo daqueles dois, e acho que não é importante se aquilo tudo era verdade ou não. O que fez com que eu me sentisse tão incomodada foi o machismo presente em cada palavra que eles falavam. Gente, eles eram novos demais para falarem daquele modo nojento sobre as mulheres. Sabem aquele babaca de 40 anos que se acha pegador e fala mal de tudo que é mulher? Parece que eu vi naqueles meninos como se inicia o processo para ser aquele tipo de cara. Há muito homem que fica falando deste jeito apenas por falar, mas pelo amor de Deus, mais alguém aí acha isto absolutamente ridículo? As palavras tem um poder enorme. Algumas palavras de um presidente de um país podem estabelecer uma crise internacional, uma frase de um dos cônjuges pode destruir um casamento de anos, palavras impressas em um livro podem guiar toda a formação acadêmica de uma pessoa. Não consigo acreditar que tudo aquilo tenha sido dito por nada, aquelas palavras devem significar algo para eles. Se não for o que eles realmente pensam, talvez seja o que eles acreditam que devem dizer para serem bem vistos. Sendo qualquer uma das duas opções, dá para a gente pensar bastante a respeito do meio em que vivemos e do que as pessoas estão levando como valores de vida. Fiquei com pavor de pensar que um filho meu um dia possa falar de uma mulher do modo como aqueles dois rapazes falaram de várias. Na verdade, acredito que não se deva falar de ser humano nenhum nos termos que eles usaram.

Eu poderia te me virado e dito tudo o que estava pensando a respeito deles, mas seria uma atitude boba, que só teria três consequências: 1) Ficar irritada, 2) Ficar aliviada e 3) Fazer com que eu passasse por fofoqueira retardada, já que aquilo não era assunto meu e não sou a dona da verdade. É muitíssimo improvável que algo que eu dissesse mudasse o pensamento deles, mas tudo o que eles disseram — e acreditem quando digo que eles disseram muita coisa — mudou algumas coisas em mim, coisas estas que já vinham se configurando com certos episódios que percebi neste último Big Brother. O principal é eu estar bastante atenta ao machismo que nos rodeia, mas não de um modo que me faça chamar todos os homens de machistas; muito pelo contrário, estou é pensando naqueles homens que conheço que percebem as mulheres como seres dignos de respeito, e estou valorizando muito o fato de eles fazerem parte da minha vida. Preocupante mesmo é o grande número de mulheres que vejo com o mesmo discurso machista, mas isto é assunto para um outro momento.

Queria saber como aqueles meninos são, que criação receberam, suas opiniões sobre variadas coisas. O ponto ruim de sempre ter tido poucos contatos é que não vi muito desses tipos de pessoas que considero detestáveis, então sempre fico impressionada quando as ouço falar. Também gostaria de saber se realmente há (como me parece haver) tantos meninos tão machistas por aí, como as mulheres os encaram, o que acham do assunto na época em que vivemos. Pessoalmente, encarei toda a conversa daqueles rapazes quase como ofensa. Será que as outras mulheres também o encaram assim, ou estão mais acostumadas a tudo isto? Quando a mim, já estou aqui planejando toda a educação do meu filho!

Mais respeito, garotada. É o que peço por hoje!

quinta-feira, 10 de março de 2011

Chuva, chuva, chuva!

Depois de tantos dias em casa, hoje tive de ir à Niterói ver meu alergista. Aquela preguiça de sempre na hora de me arrumar, o esforço para passar a roupa (de-tes-to), arrumar a bolsa, pegar meu livro do momento, correr para o ônibus. No fim, lá estava eu desbravando o enorme caminho Barra-Niterói.

 


Quando estava no ônibus, aproveitei para adiantar alguns capítulos de A Menina Que Roubava Livros, livro que enrolo muito para ler (na verdade, ando enrolando para ler qualquer coisa). Já estava me afeiçoando à Liesel e Rudy, mas olhei para fora e...ah, lá estava ele. Meu mundo feliz, meu mundo especial, a razão do ocasional brilho nos meus olhos. Rio de Janeiro nublado. Não é novidade para quem me conhece o fato de eu adorar chuva e tempo frio, mas minha reação quando encaro o tempo assim sempre me faz um bem tãããão grande que não consigo deixar de me impressionar. Parece que aquele vento está me abraçando, que o meu andar é mais um voar, que as nuvens escuras estão pertinho das minhas mãos. O balançar das folhas das árvores não é só uma reação ao vento; é, antes de tudo, um cumprimento delas à minha passagem. Soa egoísta, mas sinto mesmo que o vento fica mais forte sobre as folhas quando passo, só para que eu fique naquela minha tentativa boba de não sorrir no meio da rua. Deus, como parece que estou flutuando! Não sei de onde vem essa sensação, mas não quero que passe. Ainda por cima, eu estava sozinha, e foi somente hoje que percebi que gosto muito de andar sozinha pela cidade. Faço tudo naquele meu tempo (quase sempre) tão lento e, se quiser acelerar, ninguém vai me impedir. Fico lá, conversando mentalmente comigo no ônibus.

Não digo mais que o Rio de Janeiro seja a cidade mais bonita do mundo, já que um dia me dei conta de que, oi, nunca saí daqui e não sei como é o resto. De todo modo, acho que, se não entre as mais bonitas, está ao menos entre as...hum... "cidades com mais capacidade de fazer uma pessoa sorrir ao vagar por elas". Uma vez, estava indo para a faculdade e ouvindo rádio no ônibus. Era um dia  frio como hoje, e os jornalistas conversavam:

- Fulano, sabe qual é a segunda cidade mais linda do mundo?
 -Qual?
- O Rio de Janeiro nublado.
- E a primeira?
- O Rio de Janeiro com sol.

Olha, é mais ou menos assim no meu coração, e sempre falarei disto enquanto houver dias chuvosos no mundo.


Mas como ela está feliz hoje, gente!

Ouço hoje: Bahara - Shreya Ghoshal

A casa dos 7 anos

Quando tinha uns 7 anos, me deitava na cama à noite e bem antes de dormir, ficava pensando em tudo o que eu mais queria na  vida. O devaneio sempre se passava no mesmo lugar: minha casa de quando eu fosse adulta, com meu marido médico e meus quatro filhos. Às vezes eram dois filhos, mas a época dos quatro durou muito tempo. Nunca pensava em festas, em agito, em qualquer lugar fora da minha casa. Se eu devaneasse na segunda sobre um dia em que eu estaria cozinhando, na terça, eu estaria brincando com as crianças, na quarta, a família estaria vendo algum filme...era sempre algo assim, muito familiar e simples.

Lembro que a minha cozinha tinha sempre um tom meio amarelado, porque eu sempre a imaginava à noite, quando as luzes estavam acesas (pelo jeito, não havia lâmpadas econômicas lá). Eu tinha um modo infalível de manter a cozinha arrumada: enquanto ia cozinhando, as crianças iam lavando a louça (só em devaneio mesmo). Nós ficávamos conversando enquanto isto. Eu tinha uma profissão, que, é claro, mudava de acordo com meus desejos infantis. Acho que era professora ou escritora na maioria das vezes, e me sentia muito cansada do trabalho. Falei sobre meu marido ser médico, mas não havia nenhum motivo específico para isto. Tenho até mesmo a clara lembrança de quando escolhi a profissão dele! Pensei "Huuuum, qual será a profissão do meu marido? Ah, médico é legal". Não conhecia tantas opções quando era mais nova, sóri. Meu marido não tinha um tipo físico definido, mas tinha uma personalidade ótima. Era engraçado, bom pai, bom profissional e menos estudioso do que eu, mas muito mais inteligente. Ele era divertido, apesar de termos nossas brigas ocasionais. Quanto aos meus filhos, eram mais divertidos ainda! Uns eram mais extrovertidos que outros, mas todos tinham um forte lado caseiro. Brincavam sempre, sempreeeee! Era o que me fazia feliz, então faria qualquer criança feliz.

Aqueles momentinhos de sonho antes do sono eram uma das partes que eu mais gostava do meu dia. Só acho engraçado quando a gente cresce, esquece daquilo tudo que um dia nos foi tão importante e leva um susto quando lembra! 

Ainda estou em férias, volto às aulas na segunda-feira. Sempre faço meu balanço de férias, assim como os de muitos outros momentos (aniversário, final de ano, novo período, tudo é motivo para balanço). O saldo dessas férias foi muito positivo, mas eu não entendia por que estava me sentindo tão feliz, já que só fiquei em casa rindo com minha família e vendo dezenas de filmes. Foi então que voltou a lembrança daquela minha família dos 7 anos, e ficou claro que, nestas férias, apenas fiz o que sempre soube que gostava de fazer (deu para entender, sei que deu!). Eu prestava muito mais atenção em mim quando era mais nova!