Quem passeia muito de ônibus acaba sabendo de muitas histórias alheias. Quando há alguém conversando alto com outra pessoa na rua, costumo dizer ''As pessoas adoram compartilhar suas vidas comigo'' para o (a) amigo (a) que estiver andando comigo. Brinco porque realmente acho engraçado o quanto as pessoas acham que seus segredos estão mais protegidos na rua. Até eu caio nessa, às vezes. Uma vez, estava no ônibus conversando com a Gabi sobre um menino da faculdade. Ele havia falado de muitas coisas intensas de sua vida para um monte de gente do curso, e estávamos falando de tudo aquilo, do quanto ele deveria se preservar mais e de tudo por que ele havia passado. Um menino que estava sentado próximo a nós parecia ser um colega da nossa turma, e esta dúvida nos perseguiu por meses. Descobrimos que não era ele algum tempo depois, mas a situação valeu para nos deixar mais alertas. A rua não é uma extensão da nossa conversa secreta de msn!
De todo modo, meus dias não teriam a mesma graça se não fossem por estas lindas pessoas que saem compartilhando suas experiências e pensamentos com os outros. Uma dessas conversas acabou sendo o ponto mais interessante do meu dia de ontem. Cenário: ônibus da linha Castelo-Barra da Tijuca. Horário: quase 19:00. O trânsito da Barra é sempre intenso neste horário, e não foi diferente ontem. Dois garotos conversavam no banco atrás do meu, e eu os estava achando engraçados. Sabem aqueles meninos bobos, que gostam de contar vantagem? Eram bem assim. Um tinha 17 anos, o outro era um pouco mais velho. Estava achando os dois bobos por estarem tentando deixar bem claro que estudavam na PUC, blá blá blá, coisa de menininho deslumbrado. Não dá para culpar um calouro de 17 anos por ser assim, tudo bem. Então, o mais novo ficou zoando um amigo que estudava numa outra faculdade particular de menos prestígio. Ok, entrando no nível ''idiotas''. As pessoas tem uma capacidade sensacional de piorar as coisas. Os dois simpaticões começaram a conversar sobre mulheres. Eu estava sentindo raiva, que quase se transformou em ódio quando ouvi:
- Eu pegava uma menina de 14 anos quando eu tinha 16, mas ela era muito chatinha.
- Por que?
- Ah, não tinha muito o que conversar com ela.
-Cara, pra que conversar? O bom de pegar novinha é que elas são apaixonadinhas,aí você...
- É, uma vez eu peguei uma e fiz um monte de coisa com ela.
- Fez o que?
-Ah, de tudo.
Ouvi de tudo daqueles dois, e acho que não é importante se aquilo tudo era verdade ou não. O que fez com que eu me sentisse tão incomodada foi o machismo presente em cada palavra que eles falavam. Gente, eles eram novos demais para falarem daquele modo nojento sobre as mulheres. Sabem aquele babaca de 40 anos que se acha pegador e fala mal de tudo que é mulher? Parece que eu vi naqueles meninos como se inicia o processo para ser aquele tipo de cara. Há muito homem que fica falando deste jeito apenas por falar, mas pelo amor de Deus, mais alguém aí acha isto absolutamente ridículo? As palavras tem um poder enorme. Algumas palavras de um presidente de um país podem estabelecer uma crise internacional, uma frase de um dos cônjuges pode destruir um casamento de anos, palavras impressas em um livro podem guiar toda a formação acadêmica de uma pessoa. Não consigo acreditar que tudo aquilo tenha sido dito por nada, aquelas palavras devem significar algo para eles. Se não for o que eles realmente pensam, talvez seja o que eles acreditam que devem dizer para serem bem vistos. Sendo qualquer uma das duas opções, dá para a gente pensar bastante a respeito do meio em que vivemos e do que as pessoas estão levando como valores de vida. Fiquei com pavor de pensar que um filho meu um dia possa falar de uma mulher do modo como aqueles dois rapazes falaram de várias. Na verdade, acredito que não se deva falar de ser humano nenhum nos termos que eles usaram.
Eu poderia te me virado e dito tudo o que estava pensando a respeito deles, mas seria uma atitude boba, que só teria três consequências: 1) Ficar irritada, 2) Ficar aliviada e 3) Fazer com que eu passasse por fofoqueira retardada, já que aquilo não era assunto meu e não sou a dona da verdade. É muitíssimo improvável que algo que eu dissesse mudasse o pensamento deles, mas tudo o que eles disseram — e acreditem quando digo que eles disseram muita coisa — mudou algumas coisas em mim, coisas estas que já vinham se configurando com certos episódios que percebi neste último Big Brother. O principal é eu estar bastante atenta ao machismo que nos rodeia, mas não de um modo que me faça chamar todos os homens de machistas; muito pelo contrário, estou é pensando naqueles homens que conheço que percebem as mulheres como seres dignos de respeito, e estou valorizando muito o fato de eles fazerem parte da minha vida. Preocupante mesmo é o grande número de mulheres que vejo com o mesmo discurso machista, mas isto é assunto para um outro momento.
Queria saber como aqueles meninos são, que criação receberam, suas opiniões sobre variadas coisas. O ponto ruim de sempre ter tido poucos contatos é que não vi muito desses tipos de pessoas que considero detestáveis, então sempre fico impressionada quando as ouço falar. Também gostaria de saber se realmente há (como me parece haver) tantos meninos tão machistas por aí, como as mulheres os encaram, o que acham do assunto na época em que vivemos. Pessoalmente, encarei toda a conversa daqueles rapazes quase como ofensa. Será que as outras mulheres também o encaram assim, ou estão mais acostumadas a tudo isto? Quando a mim, já estou aqui planejando toda a educação do meu filho!
Mais respeito, garotada. É o que peço por hoje!
Queria saber como aqueles meninos são, que criação receberam, suas opiniões sobre variadas coisas. O ponto ruim de sempre ter tido poucos contatos é que não vi muito desses tipos de pessoas que considero detestáveis, então sempre fico impressionada quando as ouço falar. Também gostaria de saber se realmente há (como me parece haver) tantos meninos tão machistas por aí, como as mulheres os encaram, o que acham do assunto na época em que vivemos. Pessoalmente, encarei toda a conversa daqueles rapazes quase como ofensa. Será que as outras mulheres também o encaram assim, ou estão mais acostumadas a tudo isto? Quando a mim, já estou aqui planejando toda a educação do meu filho!
Mais respeito, garotada. É o que peço por hoje!