segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Quando comer muda a sua vida



Toda a minha adolescência foi passada de forma infeliz e miserável. Exceto pelos momentos em que me divertia com minhas amigas, lembro de sempre me perceber triste, feia e cansada. Todas essas dimensões, em especial o cansaço, ficaram trinta vezes mais fortes quando entrei para a faculdade. A carga de estudos aumentou, meu dinheiro diminuiu e estudar longe trouxe o problema do trânsito à minha vida. Sete anos depois daquele primeiro ano, descobri que as coisas não precisavam ter sido tão ruins. Uma coisinha simples que no fundo é tudo poderia ter mudado minha vida há mais tempo: comida.

Faz um ano que entrei em um sério programa de reeducação alimentar ao qual dei início sozinha, posteriormente pedindo dicas à uma amiga nutricionista até finalmente buscar tratamento com uma nutricionista própria. Comecei reduzindo a quantidade de comida nas refeições principais e evitando doces. Depois introduzi frutas, verduras e legumes, além de substituir os alimentos que já comia por suas versões integrais. Perdi 6kg só com essas leves alterações no cardápio. Também passei a fazer exercícios físicos e mais 2kg foram embora.

Falei sobre o peso que perdi por saber que isso é o que mais impressiona e motiva as pessoas, mas os ganhos foram enormes e múltiplos. Sempre pensei que fosse preguiçosa por sentir sono durante todo o dia. As aulas vespertinas da faculdade eram um suplício, pois sentia meus olhos fechando do primeiro ao último minuto. Não conseguia dar minha total atenção mesmo que gostasse do assunto. Hoje meu nível de energia melhorou consideravelmente e no ano passado conseguia trabalhar em vários bairros em um mesmo dia. Lembro da minha tristeza na época de faculdade, pensando se por toda a vida sofreria para conseguir me dedicar a algo durante o dia todo. Outra mudança clara que percebi foi o fim do peso que sentia no meu corpo. Era como se eu caminhasse o dia inteiro com mochilas repletas de pedras acopladas ao meu corpo, tentando ser produtiva durante a caminhada. Mesmo ainda faltando muitos quilos para estar no melhor peso para a minha altura, parece que aquela mochila de pedras raramente volta - só quando passo umas duas semanas comendo besteira. Recentemente fiquei dois dias na casa da minha tia, lugar em que o alimento mais nutritivo que você encontrará é pão de queijo industrializado. O peso voltou e meu estômago ainda está reclamando de tanta tranqueira no organismo.

Minha pele melhorou muito e também não vejo mais um certo desconforto que sentia o dia inteiro no estômago após fazer refeições pesadas - sabe aquele prato de arroz, feijão, bife, farofa e batata frita? Não tenho mais condições de comer tudo aquilo caso ainda queira ter um mínimo de produtividade durante o resto do dia. E prazer na comida sem salada não existe mais para mim, o que ainda é um grande choque tanto para mim mesma quanto para minha família. Sempre rejeitei todos os legumes e verduras do mundo e comia, se muito, uma cenoura crua fora das refeições principais. Hoje não vejo com enfrentar o verão do Rio sem um pouco de beterraba ralada para deixar o dia mais leve e fresco.

Houve um longo tempo da minha vida em que quis desesperadamente ser feliz, pois isto não acontecia mesmo enquanto eu atingia meus objetivos. Neste momento entendo que cuidar da saúde do meu corpo era tudo o que faltava para que aquilo acontecesse. Na minha concepção, ser feliz não tem a ver apenas com realizar grandes planos ou estar o tempo todo em movimento. Tem a ver com tranquilidade, como falei no último post. E quando meu corpo ficou tranquilo, finalmente minha mente também conseguiu chegar lá.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Hello (is it me you're looking for?)




Um ano inteirinho. Não se chega num lugar que viu você antes de prestar vestibular, se escreve "faltam 8 dias para eu me formar na faculdade" e depois se desaparece. Eu sei. Desculpa, gente.

Acabou que me formei mesmo e as coisas demoraram para mudar para melhor, mas elas finalmente chegaram a esse ponto. Acho que eu estava cansada de relatar meus perrengues. É chato ser "a guerreira", "a batalhadora", "a determinada". Queria vir aqui com boas notícias, finalmente ser a pessoa leve que chega com boas novas.

Logo após me formar, vivi o inferno ocupacional clássico do recém-formado de Humanas. Sub-empregos muitas vezes pagando menos que uma bolsa de faculdade. Houve um momento em que me percebi trabalhando em seis bairros e passando um mínimo de três horas diárias no trânsito. Não foi nada legal, apesar de me permitir ajudar um pouco em casa - que sempre foi meu sonho de pobre. Fiquei triste, exausta, tive crises de choro e meu desempenho no trabalho caiu muito. Estava sem paciência com as crianças que atendia e não queria mais trabalhar, ver meus amigos, ser ou existir. Pensei que estivesse vivendo minha primeira crise depressiva, mas estava enganada. Era apenas uma reação rápida à loucura em que me meti no meu cotidiano. Reação clássica do corpo e da mente ao excesso de estresse: pedir socorro cada vez mais alto, até a gente ouvir. Menina prática que fiquei, logo comecei a dar um jeito de mudar isso e apenas a decisão de abandonar um dos bairros já operou milagres no meu humor. Depois o resto do horário foi se ajeitando e em pouco tempo voltei a ser a criatura pequena, amorosa e pulante de sempre.

Essa fase durou um ano e meio ou pouco mais que isso. Após a mudança de rotina para reduzir o estresse, veio nova transformação: a constatação de que eu não era mais feliz na área de pesquisa em que ainda me mantinha. Decidi que assim que pudesse, sairia dela e seguiria meu caminho fazendo apenas o que gosto. Esse passo foi facilitado quando fui convocada pelo abençoado concurso no qual fui aprovada logo após me formar. Demorou mais de um ano para a convocação acontecer, mas veio no momento exato em que eu não tinha mais opções. Foi naquele momento em que ficou claro para mim que eu poderia confiar que a vida finalmente me daria a tranquilidade que almejo desde a época de escola, quando sacrifiquei tanta diversão (e saúde mental) pelos estudos.

Agora sou funcionária estadual duas vezes por semana, trabalhando em um local tranquilo e de baixa demanda que me permite ter tempo para estudar. Nos outros dias da semana trabalho no que gosto. É difícil ser autônoma em fase inicial, porém o emprego fixo afastou minhas preocupações. Sou extremamente ansiosa desde criança e fui surpreendida por uma sensação de paz interior que eu nem sabia existir em mim. Chego ao trabalho sorrindo, ando de ônibus sorrindo e vou embora sorrindo. Sinto amor pelo mundo e pelas pessoas. No nível máximo, me percebo cantando Happy mentalmente em vários momentos do dia. Descobri que trabalhar menos horas, ter tempo para si mesma e o mínimo para pagar as contas opera milagres sobre uma pessoa. Agora estou numa cruzada pessoal para obrigar todos os meus amigos a buscarem empregos estáveis que os tirem das mil horas no trânsito.

2016 começou como nenhum outro ano jamais se iniciou para mim. Sempre tive vagas aspirações de melhoras a cada novo ano, mas esta é a primeira vez que tenho planos que de fato têm como serem postos em prática - inclusive já estou a todo vapor. Tranquilidade é felicidade. E não pretendo deixá-la ir embora de dentro de mim nunca mais.