Eu ando bastante estressada, principalmente nas últimas duas semanas devido a um seminário sobre Foucault que meu grupo e eu teríamos de apresentar hoje em Psicologia da Percepção. Eu estava em crise, não tínhamos quase ideia nenhuma do que falar. Me sentei lá na frente e simplesmente não falei uma palavra que fosse durante toda a apresentação, além de ter ficado olhando para o chão.
Depois do seminário a turma deveria começar uma discussão que fosse suscitada por ele. Não sei como, mas acabamos falando sobre o nosso curso: o que achamos importante ou não, o que deveria sair ou ficar. Comecei a sentir tristeza...desde o início do terceiro período, não tenho lembrança de um dia em que eu não tenha me juntado com um bando de pessoas para reclamar do curso. Psicologia lá na faculdade está subjetiva demais, filosófica demais, "pode ser isso ou não" demais. Eu mesma não sabia disso, mas preciso de coisas palpáveis. Não digo que precise ficar num laboratório vendo células ao microscópio, mas não estou conseguindo mais suportar passar uma ou duas horas de aula com toda uma turma discutindo Filosofia e ao fim de todo o embate surgir alguém que diz coisas como: "Bem, pode ser isso ou aquilo.Pode ser qualquer coisa.Pode não ser nada.Aliás, o que é o nada?E o ser?E o que é poder?". Não dá, não pode, não quero. Calem as suas bocas por um segundo que seja, por Deus!E nem pensem em questionar a existência de Deus em pleno momento de raiva Juvenil!Não questionem...não pensem!Ou pensem, mas só CALEM ESSAS BOCAS!
Nunca sequer cheguei atrasada à uma aula de Psicologia Da Percepção, e tudo em que eu conseguia pensar era em matar aula para não me desesperar quando a professora começasse a falar de Filosofia outra vez. Virei para a Flávia(outra descontente) e disse:
-Vamos matar aula?
Ela, linda que é, concordou animadamente. Nem acreditei, fiquei tão feliz!Não teria coragem de sair da sala sozinha, de todo modo. Só sei que íamos eu e ela para o Teatro de Arena( no prédio de Economia, logo em frente) para ficar reclamando da vida, quando Mila se juntou a nós. E ficamos as três reclamando do curso e das pessoas da Psicologia por uma hora ou mais. Eu só me sentindo mais triste, com mais peso nos ombros e vendo menos opções praticáveis no horizonte. Hoje um colega me desejou bom dia no corredor e eu disse que estava com raiva daquela droga de curso. Odeio demonstrar esse tipo de atitude, ainda mais com quem mal me conhece. Sei que na próxima vez em que o vir, ele falará da minha raiva. Odeio isso. Queria ficar na minha bolhinha, protegida do mundo todo. Da objetividade, da subjetividade, das pessoas. Ficar pra sempre só comigo.
Mais tarde no estágio, as crianças( de 9 a 14 anos) estavam espetacularmente indisciplinadas, me fazendo pensar no que raios estou fazendo da vida. Eu não sou útil para ninguém, eu não sou útil para mim. E tanto faz se essa lógica de utilidade é capitalista, ligada ao trabalho como formador da sua subjetividade e blá blá blá: eu QUERO ser útil, eu gosto de pessoas úteis, eu gosto do som da palavra utilidade.
Está certo, eu sei que sou útil. Quando estou com as crianças da creche e um abraço bobo faz um bem enorme a mim e à elas, eu sei que sou útil. Ou quando leio sobre algo e depois compartilho com minha mãe, que é louca por leitura e mal anda com tempo para a atividade. Ou quando faço alguém rir. Eu sei que sou útil, mas os meus momentos negativos vem com uma força muito mais avassaladora que os positivos, que fazer?
O pior é que nem é só a faculdade. Essa família dá tanto trabalho, gente. Mais trabalho do que jamais vou confessar a qualquer um que esteja fora dela!Estou ganhando posição de respeito no meu círculo familiar, e é tanta responsabilidade que vem junta...e acontecem tantas coisas ruins nessa família. É tanta coisa pra pouca pessoa.
Também tenho outro problema: estou crescendo. Será que dá para todos serem mais compreensivos, por favor? Eu não sei o que estou fazendo, estou com medo do que faço e do que não faço. Dá pra ter paciência? Dá pra me deixar ser séria? Dá pra um dia eu chegar em casa e tentar ouvir a mim mesma, e não a histórias sobre namorados e amigas? Dá pra uma vez ou outra eu não ter que ouvir lamentações amorosas ?Dá pra ouvir nem que seja um minuto das minhas histórias sobre as minhas crianças?Dá pra respeitar meu tempo, entender que ele é lento?Dá pra respeitar meu espaço? Dá pra entender que eu sou confusa, que eu tenho o direito de estar confusa?No mínimo, dá pra ao menos tentar entender tudo isso?
Quando é que a gente sai da adolescência, hein? Preciso de amigos. Ou de mim. Sei lá do que preciso, mas preciso muito. Ou não, sei lá. Psicologia nem mais certeza me dá.
Estou com sono. Voltarei em um dia menos confuso.
Ps: quando estou na creche, sinto que minha vida e meu curso fazem todo o sentido. Na faculdade fico nesse espírito de tacar fogo em tudo.